Após o sucesso da iniciativa do ano passado, a Optimus apostou, para a edição 2002 do festival do Meco, num cartaz ainda mais recheado de grandes nomes, como sejam os Jazzanova, Fila Brazillia, Sofa Surfers, Nicola Conte ou os Rinôçérôse. Seriam eles capazes de manter o excelente nível dos que por cá passaram o ano passado? Em grande parte, não o foram.

O principal destaque do festival foi, acima de tudo, a péssima organização. Praticamente todas as actuações (ao que sabemos, excepto as das Tendas Top e Livre) começaram com enormes atrasos, com os Jazzanova, por exemplo, a começarem a sua actuação quase 2 horas depois do previsto (como estava anunciado no cartaz da tenda, porque se nos guiássemos pelos horários publicados antes do festival esses atrasos seriam muito maiores ainda). A preocupação da organização em contratar seguranças para impedirem as gentes de urinarem fora das casas de banho em detrimento de técnicos de som capazes de efectuarem os "sound-checks" e montagem do equipamento nos previstos 15 minutos revela uma absurda focagem em aspectos completamente exteriores ao que deveria ser o espírito do festival. Importante, importante mesmo era a música, não?

As constantes quebras nas tendas, a juntar a alguma falta de "sal" nas actuações de alguns artistas, contribuíram para uma fraca qualidade do festival este ano, mostrando que nem sempre se aprende com os erros do passado. Deixamo-vos com um relato da "passeata" pelas tendas.

Palco Optimus

Aquando da chegada ao evento, estavam os Kings of Convenience a tomar as rédeas do público. O duo norueguês optou por adoptar uma postura intimista, tendo o público respondido favoravelmente ao que terá sido, para os amantes do género, um espectáculo agradável. De seguida, após vários minutos de espera, surgiram os Rinôçérôse, naquela que terá sido a melhor actuação da noite. A apresentação do novo álbum Music Kills Me, a juntar a alguns clássicos como Le Mobilier ou Radiocapté, mostrou uma banda pulsante de energia, com alguns laivos de bom humor que colocaram o público em delírio. Som agradável, a juntar a uma excelente disposição dos elementos da banda e alguns "visuals" interessantes, contribuíram para um momento inesquecível do festival.

Infelizmente, não assistimos à actuação dos Sofa Surfers excepto pelos seus últimos 10 minutos. Diz quem lá esteve que terá sido uma excelente apresentação, e nós acreditamos.

Após o "aquecer" do público pelos Feel Good Productions, um colectivo de DJs que segue tendências étnicas árabes e asiáticas na concepção das sonoridades, surgiram em palco os Fila Brazillia, com o sol a espreitar já por trás das árvores. Os Fila Brazillia foram outra das decepções da noite, com uma actuação sem vocalizações e com um som que não era de todo adequado à grandiosidade do Palco Optimus. Guitarras processadas, com baixos electrónicos e vozes codificadas por um Powerbook Titanium (a "estrela" do grupo, sendo responsável por cerca de 70% do som que produzem) não chegaram para acordar o cansado público, que reagiu com indiferença às investidas de Steve Cobby. Soube a pouco.

Tenda Top

Assistimos a parte da actuação de Roger Sanchez, e do que vimos podemos afirmar que esta terá sido de longe a tenda mais animada do festival, mantendo a tendência do ano passado. Sempre cheia a transbordar, a Tenda Top confirma a apetência do público pelos "sets" de techno, com o DJ Vibe a assumir o papel de protagonista, ainda mais que Sanchez, Rui Vargas ou Tó Ricciardi. Ao que sabemos, uma grande noite de som.

Tenda Hipnose

A edição do festival Boom deste ano terá afastado muitos seguidores da cultura "psytrance" do Meco, tendo a tenda estado mais vazia que no ano anterior, com os DJs a apresentarem fusões interessantes entre o trance e o techno. Destaque para os interessantes "visuals" de Bitnix e a decoração de Federik Holm, e na música para os S.U.N. Project e DJ Mahasuka.

Tenda Mobile Fun

Algo de estranho ocorreu na Mobile Fun. À primeira passagem, a tenda estava a abarrotar e ouvia-se um rock pesado, quase punk...Algo completamente desfasado do espírito do Meco. Alguns minutos depois, à segunda passagem, a tenda estava completamente vazia e sem som, abandonada. Não sabemos o que sucedeu, francamente.

Sabemos sim, que os Dezperados constituíram uma muito agradável supresa, com um vibrante set de tecnho e electro que arrastou para a tenda muita gente. Excelentes indicações do colectivo de DJs residentes no LUX, Nuno Rosa e Tiago Miranda,com 3 gira-discos e 2 mesas de mistura. Quando Rui Portulez pegou nos controles (pensamos nós que seria de facto ele) a tenda encontrava-se novamente vazia, muito por culpa dos Fila Brazillia, da Tenda Top e principalmente dos sucessivos atrasos. Uma enorme injustiça para o DJ da Rádio Oxigénio.

Tenda Zoom - Journeys

Colocámos as expectativas mais altas aqui, pela presença de nomes tão virtuosos como Jazzanova, Nicola Conte, Spaceboys ou Madrid De Los Austrias. Os primeiros revelaram-se deslocados, optando por um set de lounge que não seria de todo adequado á vertente pulsante do festival. O público pedia mais, e como os Jazzanova não deram, a tenda foi ficando menos composta e os que ficaram aproveitaram o som relaxante para descansar, tendo o set do colectivo alemão arrastado-se penosamente por várias horas. Sabemos que são capazes de muito mais, terá faltado alguma vontade de animar o público.

O pouco que ouvimos dos Spaceboys confirmou que estamos perante um interessantíssimo projecto português. As sonoridades funk encheram os ares da Tenda Zoom e agradaram a todos quantos lá se encontraram. Os Spaceboys afirmam-se já como uma certeza no panorama da música de dança nacional, e prometem altos vôos, assim como Mike Stellar, que em conjunto com a belíssima voz e presença de Marga Munguambe, produziu um excelente "set".

Nicola Conte tomou o palco e a bossa nova tomou conta da tenda. A grande diva Rosália completou um cenário de sonoridades "loungy" que arrebatou o muito público que se juntou para ouvir. Um agradável espectáculo, que só terá pecado pelos (mais uma vez) atrasos com o "sound-check".

Outra agradável prestação foi a dos vieneneses Madrid de Los Austrias. Don Zanustre e Pogo apresentaram um show pleno de energia, com interessantes fusões de dub, jazz, funk, house, bossa nova e ritmos africanos. Nota negativa para o percussionista/vocalista que os acompanhou, Nappy G. dos nova-iorquinos Groove Collective. Um excelente percussionista, um péssimo vocalista, com constantes interrupções à música com gritos perfeitamente alucinados. No geral, uma excelente performance.
Os restantes DJs terão actuado durante os Fila Brazillia, porque ás 7h30 da manhã a tenda encontrava-se já vazia.

 

 

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