De Berlin-Mitte, um bairro no centro da grande Berlim, onde vive Stefan Betke, o indivíduo por detrás do projecto Pole, demora-se apenas 15 minutos de carro a chegar à Koepenicker Strasse em Kreuzberg, onde se situa o antigo armazém que serve agora como seu estúdio. O contraste não podia ser mais proeminente. Berlin-Mitte prospera,enquanto que a Kreuzberger Durchgangs-strasse, a principal avenida de Kreuzberg,está pejada de zonas industriais abandonadas, alguns edifícios de apartamentos e o obrigatório centro comercial. Felizmente, a atmosfera no interior do espaçoso estúdio que Betke partilha com um produtor seu amigo respira tranquilidade. Embebido em luz natural e parcamente mobilado,ao contrário da maioria dos estúdios. Algum equipamento aqui, uma cadeira de braços de cabedal ali, paredes brancas a toda a volta, mas principalmente um excelente ambiente para a produção de som. Neste local de procrastinação, acompanhado pelo constante zunir de máquinas, a música de Pole ganha vida.

Estruturalmente, a música de Pole é baseada em ritmos abstractos, irregulares, criados por um defeituoso filtro analógico de sons usado por Betke, mais concretamente o "Waldorf 4-Pole". Estes ritmos são, essencialmente, frequências cheias de interferência (normalmente chamados "ruído"), evocando o saudoso vinil, excepto pela qualidade digital que os torna muito imediatos. Tomando como referência os métodos de produção do Dub jamaicano - retirando ritmos monótonos fora de contexto utilizando ecos e loops repetitivos - Betke produziu três álbuns, "1", "2" e "3". Todos contêm um uso frugal de melodias e baixos entrelaçados numa textura de ruidosos ritmos emitidos pelo filtro. Uma explosão de reverberações e o ruído persistente - parece uma receita simples, mas na realidade cada composição de Pole é elaborada como um sistema nervoso central, complexo tanto na estrutura como na textura. "Falamos de atenção ao pormenor opsto a qualidades superficiais", diz Betke, "Passo muito do meu tempo a reduzir excedente estrutural numa peça, passo a passo, camada após camada, até atingir um certo alicerce de valor duradouro." O que parece abstracto é na realidade algo muito tangível: após um meticuloso processo de eliminação, uma estrutura de 1-2 minutos permanece. Esta estrutura pode, teoricamente, ser repetida infinitamente sem perder a sua dinâmica porque se tornou uma entidade por direito próprio. "Neste ponto, tudo passa além da pura ornamentação. Quando a textura está completa, as melodias caem no seu lugar, parecendo vir do nada, deixando uma marca, apenas para desaparecerem outra vez."

O público dança: Stefan Betke, originário de Dusseldorf, mas agora um "Berliner" por escolha, é um dos poucos representantes da música electrónica que nutre um respeito pela história da música clássica enquanto abraça o actual "club-music". Conta como principais influências os minimalistas Steve Reich e Arnold Schoenberg, John Zorn, Arto Lindsay e Fred Frith.

 



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