CBT
DUAS NOITE A DANÇAR ENTRE O ALVÃO E O MARÃO


Decorreu em Celorico de Basto, a 9 e 10 de Agosto, a segunda edição do CBT-DANCE FESTIVAL que levou até aquela simpática vila, cerca de sete mil amantes das mais variadas sonoridades da electrónica (apesar do mau tempo).
Situado numa das mais belas paisagens naturais portuguesas, este festival caracteriza-se pela aposta em nomes de elevada qualidade, para atrair um público conhecedor e interessado nas novas tendências da música electrónica. François Kevorkian, Hype, Gilles Peterson, Nigel Hayes, Psycraft, Optical, foram alguns dos nomes que marcaram presença nas quatro tendas em que se realizou o CBT (Tenda Master, Tenda Drum’n’bass, Tenda Trance e Tenda Global Grooves / Journeys).


SEXTA-FEIRA: 9 de AGOSTO

A pior noite em todos os aspectos. Em primeiro lugar pelo irritante chuvisco que teimou em marcar presença e em segundo pelas propostas escutadas.


TENDA MASTER

Na Tenda Master, as atenções estavam focadas não só nas actuações dos Mo’Horizons e de Luke Slater, como também nos sets de Harvey, Dzhian & Kamien e François Kevorkian.
Coube aos Mo’Horizons estrear o palco. Defronte a uma plateia conhecedora da sua musica, este projecto oriundo de Hannover, nunca se conseguiu soltar. Talvez afectados pelo recente falecimento de Oli Rösch, patrão da editora Stereo Deluxe à qual estão ligados, este projecto desenvolvido por Ralf Droesemeyer deu um concerto morno onde o calor da sua musica raramente apareceu. O tropicalismo dado a escutar através dos seus discos, quando transposto para o palco pode ser interessante aos ouvidos dos anglo-saxónicos e/ou orientais, mas no nosso país a coisa é diferente. Por várias vezes, as intervenções da vocalista Leila Pantel aproximaram-se perigosamente da boçalidade, tantas vezes expressa pelo nossos “irmãos” do outro lado do Atlântico. Em vez do resultado pretendido, que neste caso era “aquecer o ambiente”, obtinha-se um estranho “Cala-te e canta... que fazes bem melhor!”.
Após a actuação dos Mo’Horizons, a dupla Dzhian & Kamien tomou conta do palco para iniciar o seu set. Vlado Dzhian, primeiro, e Mario Kamien, depois, tiveram inúmeros problemas com o equipamento, nomeadamente com o prato esquerdo, o que levou Mario a interromper a sua prestação. Bem disposto, o austríaco pediu desculpa aos presentes e retiraram-se sob um forte aplauso. Durante o dj-set da dupla, que foi um dos melhores da noite, foram apresentados alguns temas do álbum Grand Riserva que tem edição prevista para o mês de Setembro. O que lhes falta em técnica (que não é muito, diga-se em abono da verdade) sobra-lhes em bom gosto na selecção dos temas. Que regressem em breve, é o que se deseja!
Harvey foi o nome que se seguiu. E o que se pode dizer da actuação deste reputado DJ britânico? Sem chegar a ser uma decepção, Harvey, apresentou um set eclético, como é seu timbre, recheado de interessantes propostas house mas que não foram suficientes para fazer vibrar o publico que aquela hora enchia a Tenda Master. Resumindo, o homem não estava nos seus melhores dias.
E eis que chega o momento de entrar em cena um dos nomes mais aguardados do CBT deste ano: François Kevorkian.
Os primeiros minutos da sua actuação fizeram prever uma viagem aos diferentes espaços do house, mas após um início prometedor, as expectativas ficaram goradas. Do house orgânico ao drum’n’bass, do tecno ao disco tudo foi tocado mas a sensação que invadia os presentes era a de um desnorte por parte de Kevorkian. A sua selecção era tão confusa que conseguiu fazer com que parte do publico se sentasse. E, meus amigos, isto é o pior que pode acontecer a quem tem por missão fazer dançar. É certo que para o final da sua prestação as coisas melhoraram mas um final abrupto fez com que a presença deste importante nome da musica de dança se saldasse por um relativo fiasco. Foi triste ver quatro roadies a desligarem os cabos da mesa e pratos para que a panafernália de Luke Slater fosse instalada. Não havia necessidade! Das duas uma, ou François K tinha ultrapassado o tempo previsto para a sua actuação ou Luke Slater estava cheio de pressa para subir ao palco.
Luke Slater apresentou um live-act algo desinteressante e que contou com a participação de um vocalista (Alcântara Dancers meets Billy Idol) e de uma outra personagem na maquinaria de apoio a Slater. Um tecno com influencias electro (tão em moda ultimamente) chato e que fez com que este escriba resolvesse abandonar a área durante a quarta musica apresentada.


TENDA GLOBAL GROOVES

Foi nesta tenda que DJ Vibe e convidados brindaram quem por lá passou (e não só) com as suas escolhas musicais. O recinto esteve toda a noite completamente cheio por seres que se destacam por andarem constantemente a apitar e a buzinar. Todos de boné e óculos de sol, isto é, os chamados cromos!
Peter Tha Zouk, Al, e Vibe (16 B devido a problemas técnicos não actuou e Vibe este quase para fazer o mesmo) fizeram delirar a mole humana com uma musica gasta, sem ideias, e que só os mais distraídos continuam a ouvir. Não estive lá mas o som deste tenda funcionava como musica de fundo para a área vip e foi neste espaço que ouvi (infelizmente) os dj’s que por lá passaram.


TENDA TRANCE

A Tenda Trance, da responsabilidade da produtora Quest 4 Goa, estava com uma decoração muito, muito fraca (o que não é habitual nesta produtora). Lotada com um publico muito específico, que raramente vai visitar os outros espaços, os “trancers” viajaram nesta primeira noite ao som de X_Tigma, Fluxo, Alon & Nir, Psycraft e Illumination (estes dois em regime live-act).
O trance, apesar das festas terem bastante publico, enfrenta alguns problemas de estagnação e as tentativas que têm sido feitas para o revitalizarem não têm tido o efeito esperado. Mesmo assim, destaque para o live-act dos israelitas Psycraft.


TENDA DRUM’N’BASS

Este foi um dos espaços que mais gente teve. No entanto, também era o mais pequeno.
Com um som péssimo (mas quem lá esteve pelos vistos não se importou) esta tenda esteve toda a santa noite a 200 à hora, neste caso a 200 bpm (no mínimo).
Os dj’s Frenzic, Hype, Red One e Andy C e os mc’s Ad e Rage puseram toda a gente aos saltos, apesar da equalização ser má e de não se perceber patavina do que diziam/berravam os mc’s. Pelos vistos o drum’n’bass actual serve-se em batidas fortes que não diferem muito das utilizadas no trash metal.
Um exemplo é a musica Sambassim de DJ Patife que rodada por Andy C estava quase irreconhecível, para pior!


Nota: às 8 da manhã a organização ainda vendia bilhetes para os dois dias (30 euros) a alegres compradores. Crise? Qual crise?


SÁBADO: 10 de AGOSTO

A chuva desapareceu mas veio o nevoeiro e o frio. Menos público.


TENDA MASTER

Os primeiros a actuarem foram os The Bays, um colectivo britânico que têm somente um tema editado (numa compilação) e que não planeiam alterar este modo de estar na musica. Funk, house, drum’n’bass, jazz e o que vier à rede faz parte da ementa sonora destes britânicos cujo foco de atracção é o baterista Andy Gangadeen, uma autêntica caixa de ritmos humana. Deixaram saudades e realizaram o primeiro encore deste festival.
Os Koop eram um dos nomes mais aguardados mas o facto de actuarem depois dos The Bays e da Tenda Journeys já se encontrar em pleno funcionamento, prejudicou a prestação destes nórdicos. Um concerto mais suave que o anterior, a apelar a sensações mais intimístas e que teve a participação de Yukimi Nagano e de Earl Zinger. Os momentos altos foram alguns mas os baixos também não faltaram. Não pela qualidade musical mas sim pela ordem dos temas apresentados, tendo em consideração a hora a que se realizou o concerto (2H-4H).
Mais uma referência! Gilles Peterson, DJ de culto da cena londrina estava de regresso ao nosso país e com a companhia de Earl Zinger (alter-ego de Rob Gallagher dos Two Banks of Four) na função de MC. Da mala de Gilles saiu uma paleta sonora que surpreendeu os presentes. Drum’n’bass, house, tecno, old-skool, tudo serviu para a festa. E se na noite anterior Kevorkian não conseguiu proporcionar a viagem, Gilles realizou-a sempre com o factor surpresa a marcar presença. 5 estrelas!!!
Nigel Hayes trouxe de Londres tech-house hipnótico, elegante, sofisticado e que agradou a todos aqueles que esperaram por Zé Salvador, um dos melhores DJ’s nacionais.
Zé Salvador começou o seu set com house cheio de congas de sabor latino, para depois visitar discos de pendor mais tecno. Ninguém ficou parado durante a sua actuação o que é sempre bom sinal.


TENDA JOURNEYS

A produtora Journeys apostou no som do reggae e derivados para o CBT. Para isso convidou os britânicos Gussie P & Gaffa Blue (do Harpo Sound System) e o os nacionais Dubadelic Sound System, nomes que apesar da boa qualidade da musica que escolhem não levaram muitas pessoas até aquele espaço. A afluência foi sempre diminuta ao longo de toda a noite, provavelmente devido à Tenda Master que estava mais bem composta que na noite anterior.


TENDA TRANCE

Manuel Zilahy, os Orion e Jean Borelli conseguiram os melhores momentos da noite. Perante uma tenda muito bem composta, estes nomes debitaram trance bem mais interessante que aquele que por lá foi escutado na noite anterior. Mesmo assim, não há paciência!!!


TENDA DRUM’N’BASS

A velocidade da musica não se alterou em relação à noite anterior. Parecia um concurso para destruição de PA, ouvidos e... cérebro!
Com a ausência de DJ Craze foi com Ruff Stuff e Optical que os apreciadores destes beats mais deliraram.
Uma conclusão se pode retirar após a audição dos DJ’s de drum’n’bass e trance. Estes dois estilos atravessam um período, que já é longo, de estagnação. É urgente que encontrem formas de se revitalizarem, tal como aconteceu com o tecno que encontrou o electro para um novo impulso.


É necessário por parte da organização rever alguns aspectos do festival, nomeadamente a disposição das tendas, a inclusão de um espaço chill-out com o mínimo de conforto e a introdução de espaços com actividades alternativas.


Nota: às 8 horas ainda se vendiam bilhetes a 20 euros para o festival que acabava dali a quatro horas. Crise? Qual crise?

 

 
 
 
 

Rui Manuel Santos
 
   

 

 

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