Desta vez, pensei eu, não vou falhar - já tinha perdido os sets de Llorca, Les Gammas, o Blue Spot, Scanner, Rollercone e uma data de outros eventos - e vou picar o ponto no Número Festival, evento que já ganhou um espaço próprio na lista de obrigatoriedades nacionais. No entanto, sendo o falhado que sou, só fui capaz de assistir aos espectáculos do último dia e, para mais, só cheguei ao Carlos Lopes por volta da meia-noite. Mas o pouco que vi compensou largamente o que perdi. Aqui fica o relato do que lá se passou:

Quando cheguei, os Hipnótica estavam a terminar a sua actuação com reminiscências de Clash - esta banda promete. De seguida, e como não queria que a Patti Smith me contrariasse dizendo que o Kurt ainda não morreu, fui até ao NúmeroLOUNGE, ali mesmo ao lado, ver como se iria safar Jan Jelinek, o homem da ~scape. Antes da sua actuação, ainda me foi possível ver o britânico The Hacker levar a manipulação de ruído a um nível extremo, massacrando o processador do seu Powerbook Titanium (e alguns ouvidos na plateia) com os minutos finais do seu set, onde um ruído constante e estridente se sobrepôs aos demais. Um pouco exagerado.
Jelinek safou-se lindamente, com um dos melhores sets que me foi dado a ver este ano. Filtrando samples guturais de órgão através do seu Powerbook (ferramente obrigatória de todos os DJs da noite) e mixando-os com "squeaks" deliciosos, que compunham uma batida interessantíssima, um pouco ao estilo de Pole, Jelinek pôs o NúmeroLOUNGE a dançar, mesmo se metade da diminuta sala estava vazia. Mas, como ele próprio afirma na entrevista que lhe fizemos, o importante é entreter quem lá está. Pena que o público em geral tenha preferido o desenterrar de velhas melodias com a Patti Smith (que foi alvo de polémica no painel de mensagens do evento - já vos explico melhor) à memorável primeira actuação do alemão em Portugal.
De seguida, e nos minutos que antecederam o set de 4Hero, assisti a um pouco do set do americano Safety Scissors que, como me explicou o Jan Jelinek, trocou com ele na ordem dos sets porque estava com problemas no equipamento, o inevitável laptop.
Um set interessante, com um house muito eléctrico, a voz manipulada ao vivo do artista criando uma envolvência profunda, aquática, na amálgama de sons de sintetizador e batidas fortes e frias que saíam dos dedos do americano. Não vi todo o seu set, mas pareceu-me que tínhamos ali um bem valioso do Festival.
Começou o set de 4Hero e eu, como quase toda a gente, dirigi-me ao NúmeroAUDITORIUM. Foi arrasador, literalmente. Desde o princípio que Mark Mac e Dego apresentaram um drum n' bass rapidíssimo, sem piedade. Foram minutos de prazer e dor. O público teve reacções mistas, uns adoraram, outros, como eu, não aguentaram a pressão de ter de dançar a 300 beats/segundo. De modo que, ao fim de 20 minutos, desisti e fui ver como se saía Jonas Bering. Confesso que acabei por não escutar muito do set, pois surgiu a oportunidade de entrevistar Jan Jelinek (entenda-se, apanhei o pobre do homem a fazer chi-chi na casa de banho). Mas apanhei alguns apontamentos de interesse, como um house mais fluído que o de Safety Scissors, um meio termo entre o "droning" de Jelinek e a vivacidade de I:Cube.

É chegada a hora da explicação que vos prometi - o painel de mensagens. A YORN, patrocinadora do evento, colocou um painel electrónico no recinto que reproduzia mensagens que qualquer um podia enviar através de um telemóvel. O painel foi um dos protagonistas da noite, não só porque enviei umas 3 mensagens a publicitar o Colectivo :, mas também porque serviu como um medidor de satisfação do público, salientando-se a controvérsia em torno da presença de Patti Smith num festival que, no ver de muitos, deveria ser dedicado totalmente à electrónica.

Notas positivas: boa afluência de público, o nível geral das actuações que foi muito bom, o excelente Jan Jelinek.

Notas negativas: o cancelamento do act de V/VM, o não poder ter assistido a todos os sets (culpa mea), as bebidas excessivamente caras.

Nota final: e para quando Boards of Canada e Plaid em Portugal?

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